Como será o mundo dos veículos a partir de 2025?




O futuro será dos carros sem gasolina — Foto: Foto de Aleksejs Bergmanis no Pexels

Durante quase todo o século 20, os veículos a combustão interna dominaram o mundo sem nenhum questionamento sobre os impactos causados ao meio ambiente. Mas diante da emergência climática, o carro elétrico surge como novo protagonista da mobilidade do século 21. Vários governos no mundo anunciaram planos para restringir a venda de automóveis movidos a combustíveis fósseis nos próximos anos. Isso faz parte dos esforços para cumprir os objetivos do Acordo do Clima de Paris.

Europa largou na frente ao impor metas agressivas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa dos veículos e, desde 2015, lidera as vendas de elétricos. A Noruega é o primeiro país do planeta a superar 50% de veículos elétricos vendidos e anunciou a proibição da venda de carros a gasolina e diesel a partir de 2025.

Os emergentes China e Índia, que têm os maiores mercados automotivos do mundo, lideram a produção global e os Estados Unidos vão alocar US$ 2 trilhões em planos para o clima que incluem frear a produção e venda de carros beberrões e poluidores, além de zerar a taxa de emissões até 2050.

Na corrida pela descarbonização, as principais montadoras se comprometeram em eletrificar suas frotas com promessas ambiciosas de transição para mobilidade sustentável e investimentos acelerados até o fim desta década.

Ford vai deixar de vender carros a combustão interna na Europa a partir de 2030. Com Brasil fora dos planos, a empresa vai investir US$ 22 bilhões em propulsão elétrica para deixar a bomba de gasolina e migrar de vez para a tomada. A expectativa é que a picape F-150 elétrica seja mais barata de operar e mais potente do que a atual versão movida a gasolina.

Infográfico vendas elétricos em 2020 — Foto: Robson Rodrigues

No mesmo rumo segue a General Motors. A montadora tem pressa em acabar com as emissões de carbono dos novos veículos leves até 2035 e trabalha no barateamento do custo das baterias. Para isso, a companhia anunciou um aporte de US$ 27 bilhões e nos próximos cinco anos vai lançar 30 modelos elétricos em todo o mundo.

Para Mary Barra, CEO da GM, a penetração global de mercado dos elétricos ainda é muito pequena, no entanto isso deve mudar nos próximos anos. “Este momento provará ser um ponto de inflexão. O momento em que a dependência de veículos movidos a gasolina e diesel começará a transição para um futuro totalmente elétrico”, diz a executiva.

Até mesmo a Volkswagen, que protagonizou o escândalo mundial conhecido como Dieselgate, em 2015, quando a empresa fraudou testes de emissões de poluentes em 11 milhões de veículos, agora aposta todas as fichas na propulsão sustentável com um mega investimento de 35 bilhões de euros em baterias de carros elétricos. Até 2030, a gigante alemã promete lançar 70 modelos totalmente eletrificados e se tornar neutra para o clima até 2050.

“A mobilidade elétrica tornou-se um negócio fundamental para nós. Nós garantimos uma pole position no longo prazo na corrida pela melhor bateria e melhor experiência do cliente na era da mobilidade com emissão zero", afirma Herbert Diess, CEO da companhia.

Quem também está pisando fundo rumo à eletrificação é a Volvo. A empresa vai banir carros a combustão de suas fábricas e iniciar uma corrida para se tornar uma das maiores fabricantes de automóveis de luxo totalmente elétricos até 2030. A montadora não revela os números.

Seus executivos se resumem a dizer que a companhia está investindo 5% da receita anual de P&D em projetos de eletrificação e quer que metade de suas vendas em 2025 seja de carros elétricos e a outra metade de veículos híbridos. Na prática, a fabricante deixará de vender veículos movidos exclusivamente a gasolina ou diesel daqui a quatro anos.

“Para permanecermos bem-sucedidos, precisamos de crescimento lucrativo. Portanto, em vez de investir em um negócio que está encolhendo, optamos por investir no futuro”, conta Håkan Samuelsson, presidente-executivo da Volvo.

Rota promissora

Enquanto o mercado global automotivo sentiu a retração das vendas provocada pela pandemia, o setor de elétricos não conheceu a crise. Em 2020, o número de carros eletrificados vendidos no mundo chegou a 3,2 milhões de unidades, 43% a mais do que o registrado no ano anterior, segundo pesquisa do The Electric Vehicle Worlds Sale Database.

A comercialização de veículos mais verdes deve seguir em alta à medida que as regras de emissões de poluentes no mundo se tornem mais rígidas. De acordo com o Global EV Outlook, documento produzido pela Agência Internacional de Energia (AIE) sobre mobilidade, em 2030 a frota global de elétricos chegará a cerca de 140 milhões no cenário mais conservador. Atualmente são cerca de 10 milhões.


Estudos apontam que a eletrificação das frotas é um dos melhores caminhos para uma economia de baixo carbono, pois o setor de transporte contribui com 25% das emissões globais, segundo o relatório “Situação Global do Transporte e Mudança Climática Global”.

preço é a principal barreira para a adoção de elétricos em massa, mas na análise do pesquisador do núcleo interdisciplinar de planejamento energético da Unicamp, Ennio Peres da Silva, a pressão pela descarbonização da economia associada à redução de custos obtidos com os avanços tecnológicos dará impulso para que a oferta de elétricos se popularize.

“É uma hipótese possível que até 2030 os veículos elétricos tenham preços tão competitivos quanto os veículos a combustão interna. Há uma curva descendente dos custos dos carros elétricos da mesma forma que o uso dos combustíveis fósseis deverá encarecer o uso dos veículos convencionais”, avalia Ennio.

E o Brasil nessa corrida?

Enquanto o mundo estimula a eficiência energética, o Brasil segue pela contramão. Um carro flex 1.0 a combustão paga 7% de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), mas a maioria dos veículos elétricos ou híbridos pagam entre 8 e 18%.

Dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), mostram que a quantidade de carros 100% sustentáveis vendidos em 2020 no Brasil foi de 801 veículos, ante 539 em 2019. O aumento das vendas ocorreu pela expansão da eletromobilidade em alguns nichos, como o mercado de luxo e na logística corporativa.

Para Adalberto Maluf, presidente da entidade, o parque produtivo do Brasil está obsoleto porque o país não debate uma política industrial para elétricos, não há um programa nacional e não existem metas ambientais para redução de CO2 para o setor de transportes. “Essa revolução energética já está em curso no mundo e o Brasil ficou para trás. Estamos 13 anos atrasados em relação à Europa", compara ele.

Para Henry Joseph Jr, diretor técnico da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os veículos elétricos só terão viabilidade no Brasil se houver um plano de estado que invista em infraestrutura, ofereça incentivo aos consumidores e uma série de ações e políticas amplas para estimular essa modalidade.

“As perspectivas que a Anfavea tem para o setor dependem totalmente de um plano de longo prazo de estado para incentivar essa transição para veículos elétricos. Sem isso, a gente não vê perspectiva nenhuma a não ser os nichos de mercado que eles já ocupam hoje.”

Infográfico da venda de elétricos e híbridos no Brasil desde 2012 — Foto: Robson Rodrigues

Em 2018, o governo lançou o Rota 2030, programa de incentivos fiscais para fabricantes que alcançarem metas de eficiência energética e investimentos em P&D, mas o projeto não registrou até agora o efeito esperado na cadeia automotiva. Contudo, a pressão política para uma mudança dos veículos a combustão para sustentáveis vem crescendo.

Em 2020, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal aprovou um projeto de lei feito pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI) que proíbe a venda de veículos movidos a gasolina e diesel a partir de 2030 e a circulação a partir de 2040.

Com isso, apenas os carros abastecidos com biocombustíveis ou elétricos poderiam ser vendidos. O parlamentar argumenta que a proposta visa combater as mudanças climáticas, no entanto a tramitação no congresso parou por conta da pandemia e o assunto não tem previsão de quando voltará a ser pautado.

O projeto foi contestado pela Anfavea por considerar inviável alcançar tal meta em um prazo de dez anos. O senador reconhece que o prazo é curto para a realidade brasileira e que esse debate precisa avançar no congresso nacional. Seja como for, a largada para a transição rumo a uma mobilidade mais verde já foi dada.

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